segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ONTOLOGIA E DEONTOLOGIA







ONTOLOGIA E DEONTOLOGIA

POR JEFFERSON PONTES

A distância entre Deus e o Homem não é moral, é ontológica, pois pecado não é o que eu faço, é o que eu sou. (Ed René Kivitz)


Essa afirmação do Kivitz me fez pensar bastante em vários aspectos. Por exemplo, se o cerne bíblico é ontológico, porque nela há diversos modais deontológicos?

Em outras palavras, se não há nada que façamos que nos aproxima de Cristo, se o homem é dado ser filho de Deus (relação ontológica) por um ato do próprio Deus, porque a Bíblia estabelece tantas regras, ordens e mandamentos (relação deontológica)? Afinal, se nossa relação com Deus é ontológica, porque há tanto mandamentos e ordens (deôntico)?
Parece intrigante e confusa, mas acredito que é de simples solução.

Estávamos distantes de Deus, como inimigos (Rm 5:10), porque o pecado em nós assim nos separava do Santo (Gl 5:4). Mas, em Jesus, nossos pecados foram perdoados, fomos justificados, sem nada merecer e sem nada fazermos (até porque, nada poderíamos fazer para apaziguar a ira de Deus). Neste ato gracioso de Jesus, fomos feitos filhos de Deus (Jo 1:12), nascemos de novo (3:4), fomos ontológicamente transformados. Agora, temos livre acesso ao Pai, pelo sangue de Jesus que nos limpou e consagrou (Hb 10:19).

A Bíblia está cheia de mandamentos (Dt 27- 28; Ef 4:22-29; Cl 3:1-4:6); A questão deontológica da Bíblia não tem nada a ver com a salvação. Tem a ver com a transformação à imagem de Cristo de “glória em glória” (1 Co 3:18). Embora sejamos filhos de Deus, ainda vivemos em como peregrinos, em um intervalo do cronos, entre o “já e o ainda não” (1 Jo 3:2). Vivemos em um angustioso conflito entre nossos apetites egoístas, e o desejo de agirmos como verdadeiros filhos de Deus (Rm 7:14-24). Somos filhos, mas ainda (por vezes) agimos como se não fossemos. E aí que entra os modais deônticos (mandamentos, obrigações, proibições). Esses mandamentos nos ajudam a identificar um modus operandi como filhos de Deus, uma forma de viver, de conviver e de se comportar. O que um filho de Deus deve fazer? Como deve viver? Ali estão os mandamentos, como uma resposta. As ordenanças e proibições (modais deônticos) não são caminhos para a salvação (absolutamente não), mas são alternativas de uma vida em transformação à imagem de Cristo. Quer viver bem? Quer seguir (imitar) a Cristo? Obedeça os mandamentos, pois eles são caminhos de vida (Pv 4:20-22; 11:19; 12:18; 14:27).

Então, a obediência não tem a ver com ser salvo, tem a ver com ser imitador de Cristo, tem a ver com disciplina, tem a ver com renúncia própria, tem a ver com sacrifício racional (eu quero obedecer, mesmo que venha negar-me).

Que o Pai nos ajude a sermos como o seu Filho.

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